quinta-feira, 29 de abril de 2010

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Gritou. Sabia que ninguém iria escutar, pois tomou as devidas precauções para seus gritos serem abafados. Mesmo que seus tímpanos estourassem ninguém escutaria sua sinfonia desesperada. Os livros rasgados no chão eram apenas uma encenação ridícula de seu ódio e desespero. Estaria ela ainda sonhando? Presa naquele pesadelo que a assombrava desde os oito anos? O interessante daquele sonho ao avesso era que ele se encaixava naqueles tipos de delírios nos quais não importa o quanto você corra ou grite suas pernas afundaram no chão, como se sugadas pelo asfalto onírico. Ela não corria, sabia o quão patético era isso na vida real, então gritava. Ainda era patético, claro que era, mas não havia outra maneira de externalizar seus dragões interiores.
Desenhou, então, um uroboros no peito e uma lemnistica no pulso: infinita continuação do mal. O código que apenas ela saberia que, depois dos gritos, vinha o espanto com o conhecimento da verdade: ela estava só.

[foto by: lorelix04]