sábado, 24 de novembro de 2012

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Quando ninguém via ela soltava as tranças, libertando as madeixas da ditadura da moda, retirava os pés dos sapatos e os dispunha no chão. Corria pelos campos, mesmo quando havia neblina, porque ela era livre e é isso o que a liberdade faz conosco: nos retira da pressão e dos costumes. Movia-se graciosamente pelo ar a base de solfejos e sonatas, como em um balé constante – a dança da liberdade. “Deixa-a ir”, pensei ao admirar seu corpo esquio, “deixa-a ser, porque se você tentar entende-la por completo irá prende-la e, lentamente, definhará sem a possibilidade de se desembaraçar do mundo” e foi o que fiz. Aprendi tudo o que tinha para saber sobre ela, porém sem a prender, pois sua beleza estava no desassombro, nos pés em passos desordenados e caminhos alternativos. Andando como quem precisava de um neologismo para se fazer compreensível, a dama da neblina, do balé, dos pássaros e da noite: de todos, mas nunca minha.

[foto by: chedoy ]

Melodia;

Pegar em suas mãos: ser eu, você e só, ninguém mais.

[foto by: knightrazor ]

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

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Seu coração está tão despedaçado quanto o meu, mas há mais escuridão em você do que no próprio inferno, nesse caso como vamos nos salvar? Se eu quisesse, todavia, promessas de resgate exigiria fidelidade, porém nem ao menos posso te ter tempo o suficiente para chamar de meu – acredito que qualquer corpo flutuando no ar me pertence mais que seus sentimentos. Disse-me não ter a intenção de abrir meus olhos quanto às probabilidades negativas – tudo contra nós, como você já mencionou – mas adivinha? Apenas vejo suas palavras emaranhando as tênues linhas traçadas ao nosso redor. Não queria ficar só, todavia porque me afastou? Por acaso disse que desejava confundir mais ainda sua própria confusão, adjuntando os pedaços de mim com seu quebra-cabeça? São tantos segredos enterrados embaixo de sua pele – igual a todos os outros, você é pura comistão de verdades, mentiras e meias verdades. Não esconda a única verdade: quer me machucar? O faça, pois estou com minha armadura faz algum tempo, bem antes de colidimos já lutava contra dragões e engolia tubarões, contudo não precisa cuspir sua pena no meu rosto. É que, se você se importasse de verdade – ou ao menos guardasse piedade – nunca teria me deixado saber sobre a total desordem que habita sua alma, por isso não me venha com falsa compaixão. Fuja de mim no final, porém não esquece: não se começa uma tempestade quando se tem medo de trovão.