domingo, 24 de março de 2013

Castelos de cristais são destinados a se quebrar;



Era uma vez um lindo castelo de vidro. Era o mais belo castelo de cristal já existente e brilhava ao por-do-sol. O castelo era de cristal certo? Então bastava um grito, uma pedra para tudo estar no fim, mas era o castelo mais bonito dos campos então era isso o que importava. Porque a beleza era tudo e o castelo era o mais lindo.
Ela era uma linda princesa. Uma linda princesa em um mundo mágico. E era isso tudo. Ela era feliz no seu castelo de cristal. Ela era feliz ok? Ao seu modo, sozinha no seu mais belo castelo sem ninguém, porque quem precisa de alguém quando se tem um castelo tão belo de cristal? E ela era feliz. Reinando feliz sobre todos os seus súditos imaginários em seu castelo de cristal vazio. E aquilo era felicidade, era tudo o que ela conhecia então TINHA que ser felicidade, mas não era. Era apenas solidão e vaidade. Mas o que se pode fazer quando tudo o que você conhece é a pura vaidade? Beijar seu próprio reflexo em seu castelo vazio de reflexos? Em cada canto sua imagem refletia. Era apenas adoração de si mesmo. E era tudo o que ela tinha em mãos.
Com as mãos sobre os cabelos ela reinava, mas sobre quem? Sobre si mesma, sobre seus amigos imaginários porque ELA ERA SÓ EM SEU CASTELO MAIS BELO E VAZIO. Os campos vazios, o trigo vencido, os aposentos distantes, as escadas escuras. POR DEUS AQUELE CASTELO NÃO ERA DE CRISTAL ERA DE PEDRA E ESCURIDÃO. Então ela pegou uma pá e enterrou seu castelo. Para que reinar sobre o vazio? E ela enterrou o mais belo castelo de cristal dentro de si, mas o castelo não foi destruído, apenas escondido porque ela tinha vergonha. Ela tinha vergonha de governar sobre o nada. Então ela o enterrou não por dignidade, mas por vaidade. Ninguém poderia saber sobre sua maior vergonha: ela governava sobre o nada. E o castelo de cristal ficou enterrado e com o tempo fora quebrado, entortado. Mas ele ainda existia dentro dela. E ela o enterrou, o enterrou. E fugiu do mundo mágico de cristal porque ele significava sua maior vergonha. Ela fugiu com as asas de borboletas transparentes.
Quando ela retornou seu mundo de cristal estava definhando, mas era um monstro. Sua vaidade era gigante. E ela tentou desconstruir, tentou enterrar seu mundo de cristal, mas ele gritava, gritava com ela. Aquilo era ela: vaidade transparente. Pegue sua pá, princesa e enterre esse castelo. Mesmo que ele tente te engolir, desapareça com esse castelo da minha frente! Porque ele não é seu refugio, ele é sua vergonha. Corra, garota, CORRA. Esse castelo vai te pegar. E ela corria, ela corria porque tijolo por tijolo aquele castelo a engolia. Agora, com a cabeça nas nuvens, CORRA. 

[foto by: JenniferHealy]