sábado, 1 de maio de 2010

Arcanjo;

Por vezes sinto a falta de qualquer coisa que jamais ousou me pertencer; que me fulmina e me fuzila com o olhar quando cometo desacertos. Tal como um anjo da guarda pelo qual me apaixonei secretamente, tão secretamente que apenas meu âmago mais intimo o sabe, jamais me abandona, sempre me guarda. Pensar em sua ausência é como pensar em um vazio, na terra de ninguém, um deserto sem fim, onde andarei sem parar até lugar algum - uma interminável busca pela felicidade extraída. No que tange sua presença, tudo se ilumina e os dias se fragmentam em pequenas ilhas, construídas com todos os momentos de alegria. Os pés andam, com a confiança de que os olhas regem cautelosamente, e as mãos movimentam-se livremente, mas sempre na esperança de encontrar outra mão para se atar. Um amor – seria amor a palavra cabível? – que exaure o ser, completando com uma solidão de companhia incorpórea, como um oceano solitário na multidão que não acompanha. Volver-me-ia em seu oceano, o seu fim, o seu meio, contanto que pudesse sentir o seu toque não apenas na imaginação e sonhos ternos. Uma mudança de plano, de contato, para transportar o oceano solitário até grandes ruas vazias de eu e você e, assim, colocar um fim na solidão de sua companhia. Mas se um fio de seu comparecimento me fosse o suficiente estaria mentindo, pois nem toda a sua essência satisfaria minha ansiosa alma - ganância de você. E, todavia, ao passo que não acho o que me apraz, ando pelos desertos e mares ermos.

[foto by: unkn0wns]