sábado, 3 de abril de 2010

O Quarto;

Gostaria de saber como o bem irá prevalecer se, para todos os lados que olho, o mal triunfa. Talvez, se meu conceito de mal estivesse errado, tudo fizesse sentido, e Deus poderia me dar um alivio. Passarei, então, o resto dos meus dias rezando para que minha visão sobre a maldade esteja turva - mas e se não? Se a maldade for mesmo a maldade? Peço, nesse caso, que meus conceitos mudem e que o otimismo surja em mim, porque uma vida de ilusão é melhor que uma vida na escuridão. É que sou covarde demais para despertar, abrir os olhos - não há ninguém para segurar minha mão e isso me atormenta.
Faremos assim: segura minha mão, estamos em um quarto escuro agora, então, por favor, não ouse soltar minha mão. Caminharemos às escuras, os moveis podem estar em qualquer lugar e podemos tropeçar, mas se você segurar minha mão tudo ficará mais fácil. No fim não há nada, não há luz nem trevas, apenas uma continuação da sala. Então, por que vamos continuar? Porque a inércia é deprimente - prefiro prosseguir pelas trevas que permanecer nas trevas. Iremos, eu e você, até o final do quarto sem fim, regidos pela esperança de que alguém com visão noturna encontre o interruptor e faça surgir a luz. Quanto tempo até lá? Provavelmente anos, uma vida inteira, mas é isso que é viver: transitar por um quarto escuro sem fim.
Além do quarto há o desconhecido, a mudança de plano, como um abismo. Podemos tentar chegar até lá, contudo teremos que esperar um pouco. Nem sempre está na hora de cair dentro dele, é preciso muita coragem ou muita covardia, depende do seu ponto de vista. Talvez eu seja um pouco covarde...Mas você vai me julgar por isso? Pela minha vontade súbita de cair no abismo? No meu conceito doentio, contudo, nenhuma covardia pode ser julgada perante a dor individual, o martírio que cada um guarda – em silêncio ou não, não importa – é inimputável. Dor é sempre dor, na luz ou na escuridão, agora ou depois. Quem será, então, capaz de medir a sua dor e a dor alheia e, com total arrogância, criar um parâmetro distinguindo “pouca” dor de “muita” dor? Deus? Não o meu Deus, talvez o seu, ou sua entidade sagrada. Mas não importa, não importa! Ainda estamos no quarto escuro e nada disso, nenhuma dessa perda de tempo com perguntas sem sentido, vai nos tirar daqui. Somos cegos, mesmo vendo, então por que ainda estamos correndo quando há o perigo de cair? Isso é “ariscar”? Correr no meio da escuridão é ariscar ou suicídio? Que importa? Só tenta compreender uma coisa: eu não posso caminhar sem que você segure minha mão.

[foto by: erikagaci]