sexta-feira, 18 de maio de 2012

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               Olhou para baixo, tentando digerir toda a informação – capturando algumas borboletas e pensamentos aleatórios. Como tudo havia começado e, o principal, como ambos haviam chegado a este ponto? A primeira gota de chuva caiu, mas naquele momento isto era tão irrelevante quanto todo o infinito de estrelas brilhando sob suas cabeças. Milhões de galáxias e buracos negros e seus mistérios – mas nada disso poderia interferir ou parar a situação. Foi como um carro sem freios atingindo um objeto imóvel: de repente a realidade foi de encontro ao castelo de cristal, espalhando seus moradores por cada canto do mundo. Se cada pedaço pudesse contar uma história, então seriam tão diversas quanto os sentimentos ali em jogo.
Por um breve momento pensou em se virar e simplesmente sair – pagando o barulho com silêncio. Mas de que adiantaria? Seria fugir e uma vez que se foge do mundo ele te devora. Suspirou e, sem tirar os olhos do chão, lhe falou:
               - Você quebrou meu coração...
Não que isto devesse mudar o mundo ou a rotação da Terra; não que seu sofrimento pessoal fosse uma neblina no olhar de todas as pessoas porque ela era uma só. E a dor de um só não é capaz de comover o Universo – é apenas uma miúda voz em meio a algazarra. Mas para ela mudava tudo! Como se um dia descobrissem que o cinza na verdade era vermelho sangue: era importante. Ele não percebia – meninos nunca percebem e este sempre será o maior arcano da humanidade – mesmo estando bem ali na sua frente. De repente ela era o planeta com todas as constelações e então todos os buracos negros, galáxias e estrelas eram relevantes. E por quê? Porque tudo havia acabado. A venda foi retirada e ela viu que havia mais vida ao seu redor. Se havia vida e mistérios, então ela seria parte de todos. Olhou em seus olhos e firmemente disse:
- E isso me matou. Você me matou.
- O que quer dizer com isso?
Um sorriso finalmente brotou em seus lábios, após lutar contra as lágrimas. Se sua alma pudesse falar iria apenas esborrar pelos seus olhos, procurando liberdade e um pouco de acalento fora daquele corpo. De fato, meninos não entendem e nada poderia mudar isto, nem mesmo todas as palavras do mundo. A muralha de Jericó e todos os sentimentos de Shakespeare, frente a frente, digladiando de formas completamente diferentes. Apenas observou seus olhos frios e vazios, desejando que ele ao menos pegasse os sinais ou fosse capaz de ler em Braile para tatear as entrelinhas, mas não:
- Por favor, nunca mais me procure. Você me matou e hoje estou morta para você, porque você quebrou meu coração. Nenhuma palavra é o suficiente para descrever o quão frio você é e o quão tola fui ao não observar o mundo ao meu redor. Estou aqui agora traduzindo para você todas as minhas atitudes e meninices: sem mais mistérios. É simples e fácil eu só quero ficar só, assim como você, pois você não entende e não é capaz de traduzir um simples olhar meu. Sua apatia, sua falta de discernimento... Tudo isso que todos os meninos imaturos são capazes de fazer para machucar uma mulher foram o bastante por hoje. E então, finge que eu morri.