domingo, 25 de outubro de 2009

Minta para mim.

Talvez esteja apenas querendo provar a mim mesmo que não valho um tustão; uma grande farsa para a humanidade e que, na minha impetuosa ignorância, menti. De fato, passei minha vida mentindo sem parar. Compulsivamente e descaradamente joguei mentiras na cara de alhures como quem joga água. E sinto, agora, que de alguma forma, deveria me redimir pelos meus pecados, mas não consigo, sou incapaz. Não me arrependo de erro algum, não me arrependo de ter mentindo e usado aqueles que hoje choram. E por quê? Porque minha face é cruel, minha verdadeira face é obscura o bastante para admitir que não preciso pedir perdão a ninguém, exceto a minha consciência pelas vezes que me privei da mentira.
Porque mentir não é iludir, é mascarar o que se quer esconder com o que realmente se quer ver - uma ilusão de ótica. Não há nada de errado em omitir a realidade, fantasiando-a com fantasias imaginárias. É um escapismo natural e totalmente humano. Ninguém pode me julgar por um instinto demasiadamente mortal.
Não sou um mal para a sociedade, apenas um artista no ápice da criatividade. Minta, então, para mim; jogue nas mihas costas todas as perturbações que te afligem e eu serei doce como um santo, só para te guiar para bem longe de suas dores. Venha comigo e construiremos um oasis no meio do Saara de nossas mentes, nosso reino do deserto. Seremos reis da mentira, poetas criativos, artistas irreais.
E no fim, após tanto analisar e sonhar, tenho certeza de apenas uma coisa: posso ser sínico o bastante para afirmar tal ilusão de ótica, mas corajoso o bastante para admitir o quanto menti e o quanto mentirei.