quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Insensatez;

Tudo ao meu redor era névoa alvura misturado com sensações distintas: amor, terror, desejo, fome. Principalmente fome. Uma ânsia descompassada de puro apetite, sagaz e violento, pulsando em meus membros, minha pele, minha consciência, meu ser, meu âmago. Sempre tomei conta de minha essência, natureza predatória - como um animal selvagem sobre a coleira, mas tudo se exauriu, bem em frente aos meus olhos, meu auto-controlo empenou. Ondas enormes, tsunamis colossais, invadiam minha alma - todas as sensações ultrapassaram o plano corporal, atingindo minha entidade incorpórea. Entornando a racionalidade por um trabalho de Sísifo, arduamente sem fim: era essa a sensação de ajuntar novamente minha integridade moral. Poderia seguir, ou melhor, deixar-me ir com as linhas imaginárias do prazer, que rapidamente se transformavam em ondas circundadas de luxúria, mas não teria mais volta. Uma vez nos domínios de Baco, sempre guiado pela loucura do ímpeto. Não gosto da moreia, da falta de lucidez saturnal, aquela que coloca de lado a consciência mental ao agir e da-se por uma amnésia, porque tenho lembranças sobre tudo o que fiz, cada segudo que vivi de minha vida tive controle o bastante para me recordar. Andar, contudo, em passos incertos é metade do caminho para a loucura, falta de escrúpulos sedutora. Metade do caminho lúcido, metado de caminho caduco: resta apenas um passo para entrar nos campos da insanidade. O que tenho a perder então?