quinta-feira, 2 de julho de 2009

Vampires will never hurt you;

Sangue! Como não havia pensado nisso antes?! Toda sua insaciável sede, todo o seu incontrolável desejo – cruzando os limites até chegar a luxúria, toda a vontade incontestável se resumia a apenas o fluido rubro. Era tão intenso todo aquele desejo que ele podia sentir o cheiro das hemácias, as vibrações que elas provocavam ao se locomover lentamente pelas veias de seu vitima, o som de sua existência no corpo da mulher, o gosto único de cada uma, o cheiro enlouquecedor e incomparável. Tremeu subitamente ao olhar nos olhos dela – tão imaculada, inocente e frágil. Como conseguiria matá-la sem sentir culpa? Como conseguiria reunir forças para colocar para fora toda sua compaixão e remorso? Ela estava ali bem abaixo de seu corpo respirando descompassadamente – medo ou luxúria seria a causa dessa respiração tão errônea e ofegante? – sem que nada pudesse ser capaz te tira-la de lá. Ela tinha o que ele ansiava, tinha o fluido de que ele necessitava para sobreviver e conseguir calar o animal feroz dentro dele que gritava por aquilo, capaz de apagar todo o desejo em sua garganta. Mas não... Não podia! Não devia! Por mais saboroso e tentador que fosse ele não seria capaz de matar para obter o que mais desejava. Era errado, era frio e não era humano, mas... O que ele era agora? Se ele ansiava por aquilo então de alguma forma ele não era mais humano. Humanos não desejam sangue, humanos não sentem as hemácias no fluido rubi! Então o que ele era? Um monstro? Um monstro que necessitava de sangue! Um vampiro? Vampiros eram lendas, histórias criadas para assustar crianças a noite. Suspirou: a vontade estava ficando mais forte era quase impossível controlar. Precisava, a cada segundo, mais e mais do sangue dela. Necessitava a tal ponto que não se via capaz de imaginar sua existência sem o seu objeto de desejo – igual a homens ambiciosos ou possessivos ele não conseguia se projetar no futuro sem o que mais almejava. Era tarde demais para recusar, pois já a tinha ali imóvel: bastava um pequeno gesto para que todo o desejo gritante fosse silenciado. Mordeu lentamente seu pescoço enquanto a mulher gemia silenciosamente – estava incapaz de gritar? Estava tão hipnotizada e fascinada com a beleza dele que se encontrava em tal estado deplorável no qual ela não conseguia gritar para expressar sua dor? Sugava lentamente degustando cada milímetro do fluido – então, talvez, ele devesse sugar o bastante para saciá-lo e não matá-la, mas como?! Ele não se via em uma situação confortável onde pudesse parar. Não! Ele não podia parar! Cada parte que entrava em sua garganta, cada hemácia, cada milímetro entrando gritava por mais. Sua mente estava descontrolada, ela gritava “não pare!” e ele não parava. Sugava mais forte a cada instante, queria aquilo, iria até o fim para conseguir até a última gota, se afogaria em toda a extensão do sangue até que seu corpo transbordasse, até que sua sanidade quebrasse a tênue linha que a separava da loucura. Nem todo o sangue era o bastante! Ele tinha que ultrapassar o bastante, tinha que obter além do “todo”. Era fogo! Brasa! Queimava seus instintos e boca! Não queria parar, não conseguia parar! Sangue...Era tudo o que ele almejava.
***
Retirou a boca do pescoço da garota morta e suspirou ao encarar o cadáver “que tipo de monstro eu sou?”