domingo, 26 de junho de 2011

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 Já ouviu falar em “querer o braço todo”? Às vezes oferecemos a mão a alguém e esta pessoa “quer o braço todo”, como se não fosse o bastante. Eu te pedi um quarto do seu menor dedo – por que, como não tenho amor-próprio, considero isto o bastante – todavia esta humilde porção foi posta como dantesca. Mendiguei – solicitar tão pouco e ainda beirar a imploração é sim mendigar – o que já me pertence e, ainda por cima, fui taxada de gananciosa. Quanto ao fato de ter sido me negado o pouco solicitando não me alarmo, porém sim a certeza de que se fosse o inverso o faria como ainda lhe ofereceria todo meu braço, corpo, alma e o que mais desejasse. Isto sim me faz questionar qualquer afirmação, ainda mais aquelas acompanhadas de pontos de exclamação, feitas por você a mim. Todas as pessoas são diferentes, divergem e convergem, porém a humanidade não o deveria. Se somos todos humanos, então por que alguns negam o pão a outros enquanto uns o dão com tanto gosto? Afinal, o que se é preciso para ser humano e praticar a humanidade se se ser ser-humano não nos garante tal aspecto?
               Quiçá humanidade esteja relacionada à coragem; coragem de se entregar o seria¿ Alguns devem ter medo de depositar um pouco de si em outro corpo estranho. Mas viver é deixar uma pegada em cada local em que estamos presente – deixar pegada ou marca é deixar uma parte de si. Então, uns tem coragem de registrar sua passagem pelo mundo, mas não tem coragem de fazê-lo nas pessoas¿ É capaz de passar pelos locais mais belos, com os sorrisos mais fingidos, contudo não é capaz de quebrar a barreira do “educado”. Afinal, é falta de educação doar¿ Se o é, então como se pode viver? Caso contrário, então por que se tem vergonha de o executa-lo quando se tem coragem para mentiras?
               Não te pedi alimento – imagine, posso me manter sem você – mas sim atenção. Estava faminta de atenção e ao me negar um quarto da sua vasta atenção para com os outros me senti mendigando nas ruas. Compreenda que para me manter preciso quebrar a linha do saudável para o doentio: é assim que amo. Amar para mim é qualquer coisa que me deixa mais perto de um manicômio. Mas que loucura é esta que se nega? Que se priva e se contem dentro de um mundo intransponível e inacessível? O mundo das reservas, dos limites, das regras sociais não habita o mundo do romance. Este mundo esta reservado a hipocrisia das amizades falsas e das boas maneiras vazias – neste local nada nasce ou prospera. E, se você tem coragem de me negar sua excessiva atenção o que mais seria capaz de me privar?

Photo by: MissSepia