quinta-feira, 2 de agosto de 2012

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Você está louco – é isso o que você está. Como pode ao menos pensar nisto? Como?! Não vê? Pelo amor de Deus, você não vê? Eu seria sua maior decepção, seu maior erro, mais extremo que Fausto! Há dentro de mim o mar de solidão, no qual mal consigo comportar embaixo dessa pele humana. Isto é um cemitério de bruxas, mas em proporções dantescas: trinta campos-santos anciões pairando sobre meu coração. Não posso suportar a quantidade absurda que eles demandam de meu espírito – nada mais é capaz de penetrar, pois há tanto vazio. Se você me trouxesse para seu mundo, fornecendo-me a dádiva das trevas, minha dor seria expansiva demais. Eu me mataria. Não duraria nem três dias porque a solidão, o vazio, o desespero, o paganismo iriam tomar conta de mim!
Ademais, seria necessário uma nação interia a cada noite para me alimentar! Deus do céu, assassinaria milhões sob o luso-fusco, apenas para ter companhia. Você tem ideia de quantas almas isso representa? Mas nem todas juntas, dançando em meus caninos, poderiam tornar-me infimamente completa. Suas lembranças, seu sangue, seus corpos: nada disso seria o bastante. Porque ser imortal não aplacaria as imolações hipotéticas do meu paganismo – pior, todos os humanos mortos passariam a ser oferendas ao Diabo. E o que deveria permanecer no plano teórico invadiria a prática, sendo motivo para mortes verdadeiras. Um desastre perfeito, matando mais que a própria peste negra, mas incapaz de abrandar ou dormir sob as entranhas da terra. De tal forma que viveria longe dos mortais, temendo destruir o misterioso equilíbrio entre o ser humano e o mundo, e longe dos imortais, incapazes de me fornecer verdadeiro acompanhamento.Eternamente sem sentido, sem busca, sem um fim. Então, por favor, não faça isso comigo. Imploro de joelhos, pois minha incapacidade de morrer traria tempo demais comigo mesma – e não consigo aturar a minha melancolia.