Olhou
para baixo, tentando digerir toda a informação – capturando algumas borboletas
e pensamentos aleatórios. Como tudo havia começado e, o principal, como ambos
haviam chegado a este ponto? A primeira gota de chuva caiu, mas naquele momento
isto era tão irrelevante quanto todo o infinito de estrelas brilhando sob suas
cabeças. Milhões de galáxias e buracos negros e seus mistérios – mas nada disso
poderia interferir ou parar a situação. Foi como um carro sem freios atingindo
um objeto imóvel: de repente a realidade foi de encontro ao castelo de cristal,
espalhando seus moradores por cada canto do mundo. Se cada pedaço pudesse
contar uma história, então seriam tão diversas quanto os sentimentos ali em
jogo.
Por um breve momento pensou em se
virar e simplesmente sair – pagando o barulho com silêncio. Mas de que
adiantaria? Seria fugir e uma vez que se foge do mundo ele te devora. Suspirou
e, sem tirar os olhos do chão, lhe falou:
-
Você quebrou meu coração...
Não que isto
devesse mudar o mundo ou a rotação da Terra; não que seu sofrimento pessoal
fosse uma neblina no olhar de todas as pessoas porque ela era uma só. E a dor
de um só não é capaz de comover o Universo – é apenas uma miúda voz em meio a
algazarra. Mas para ela mudava tudo! Como se um dia descobrissem que o cinza na
verdade era vermelho sangue: era importante. Ele não percebia – meninos nunca
percebem e este sempre será o maior arcano da humanidade – mesmo estando bem
ali na sua frente. De repente ela era o planeta com todas as constelações e então
todos os buracos negros, galáxias e estrelas eram relevantes. E por quê? Porque
tudo havia acabado. A venda foi retirada e ela viu que havia mais vida ao seu
redor. Se havia vida e mistérios, então ela seria parte de todos. Olhou em seus
olhos e firmemente disse:
- E isso me
matou. Você me matou.
- O que quer
dizer com isso?
Um sorriso
finalmente brotou em seus lábios, após lutar contra as lágrimas. Se sua alma
pudesse falar iria apenas esborrar pelos seus olhos, procurando liberdade e um
pouco de acalento fora daquele corpo. De fato, meninos não entendem e nada
poderia mudar isto, nem mesmo todas as palavras do mundo. A muralha de Jericó e
todos os sentimentos de Shakespeare, frente a frente, digladiando de formas
completamente diferentes. Apenas observou seus olhos frios e vazios, desejando
que ele ao menos pegasse os sinais ou fosse capaz de ler em Braile para tatear
as entrelinhas, mas não:
- Por favor,
nunca mais me procure. Você me matou e hoje estou morta para você, porque você
quebrou meu coração. Nenhuma palavra é o suficiente para descrever o quão frio
você é e o quão tola fui ao não observar o mundo ao meu redor. Estou aqui agora
traduzindo para você todas as minhas atitudes e meninices: sem mais mistérios.
É simples e fácil eu só quero ficar só, assim como você, pois você não entende
e não é capaz de traduzir um simples olhar meu. Sua apatia, sua falta de discernimento...
Tudo isso que todos os meninos imaturos são capazes de fazer para machucar uma
mulher foram o bastante por hoje. E então, finge que eu morri.